Essas capelinhas têm de ordinário junto a si um cercado de pedra ou de madeira, que serve de cemitério aos fazendei ros vizinhos. Quando se diz – vizinho – naquelas paragens, e principalmente em eras mais remotas, entende-se moradores de cinco, seis, sete e mais léguas em redor.
A capelinha, a que nos referimos, tinha também junto a si o seu terreno sagrado, cercado de muro de pedra, e com uma cruz no meio, e era ali, que os fazendeiros daqueles con tornos mandavam enterrar os seus defuntos, para se forrarem ao trabalho de mandá-los viajar dezenas de léguas levando-os aos povoados onde houvesse cemitérios sagrados. Esta, porém, não foi erigida especialmente para esse fim, como se verá pelo decurso desta história.
Do alto da capelinha enxergava-se em distância de cerca de meia légua em um aprazível vargedo a fachada denegrida arruinada de uma grande fazenda, com seus vastos currais, sen zalas, moinho e engenho de cana, mas tudo a desmoronar-se, tudo abafado entre o matagal, que começava a tomar conta do terreno com a vigorosa e luxuriante vegetação, que há naquelas regiões. A fazenda achava-se situada ao pé de um lançante entre duas vertentes orladas de filas de coqueiros chamados buritis, cujas linhas se perdiam na imensidade dos horizontes como fileira de guerreiros selvagens postados em ordem de batalha ao longo dos chapadões. As terras de cultura ou matos de plantio eram mais longe, nas escuras matas, que acompanham as margens de um ribeirão, que vai desaguar no Rio das Velhas.
A algumas centenas de passos além da capelinha havia à beira do caminho uma cruz de pau toscamente lavrado, e via-se claramente que ali havia uma sepultura. Existindo ali tão perto uma capela e um recinto sagrado para se enterrarem os mortos, por que razão fora ali sepultado aquele corpo, assim segregado dos outros hóspedes do túmulo?
Aquele lugar tinha reputação de mal-assombrado, e agente daqueles contornos, que bem sabe disso, evita o mais que pode passar por ali depois de noite fechada. Um, que por desgraça teve de passar por lá a desoras, quase que lá ficou morto de medo fazendo companhia ao enterrado. Con tou, que vira sobre a sepultura levantar-se um fantasma mons truoso, o qual depois de exalar um gemido prolongado e lamen toso como o uivo de um cão, arrebentou dando um estouro como de um tiro, e desmanchou-se em línguas de fogo vivo, que passearam por algum tempo por cima da sepultura, e sumiram-se um momento depois.
Se o leitor deseja saber que acontecimentos deram lugar ao abandono daquela linda fazenda, e qual o mistério que encerram aquela sepultura e aquela capelinha, leia a seguinte história, que há tempos me foi contada por um morador daquelas paragens, e que eu tratarei de reproduzir com toda a fidelidade e individuação, que a memória me permitir.
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