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domingo, 19 de junho de 2011
O Direito à Preguiça
Panfleto revolucionário escrito em 1880, publicado no jornal socialista L’Égalité, numa série de artigos entre 16 de junho e 4 de agosto do mesmo ano, editado como brochura em 1881, revisto e reeditado em 1883, voltando a ser impresso em 1898 e em 1900, O Direito à Preguiça teve um sucesso sem precedentes, comparável apenas ao do Manifesto Comunista, tendo sido traduzido para o russo antes mesmo deste último. Possivelmente um dos textos mais lidos na Espanha, antes, durante e depois da Guerra Civil, foi reeditado pela Resistência Francesa, em 1944, e recebeu novas edições sob o patrocínio do Partido Comunista Francês, nos anos 60 e 70. Em 1968, traduzido para quase todas as línguas, O Direito à Preguiça foi panfletado pelos movimentos esquerdistas de praticamente o mundo inteiro e, desde então, tem sido constantemente republicado.” “Preocupados (com razão, aliás) com a mensagem política, os comentadores sempre deixaram de lado (ou não levaram em consideração) que a construção literária de O Direito à Preguiça revela um escritor exímio, que domina com requinte os instrumentos da retórica e é capaz de segui-la com sofisticação.” “Sabe-se, hoje, que Lafargue pensara, inicialmente, em intitular seu panfleto como Direito ao Lazer e, depois, como Direito ao Ócio. A escolha da preguiça não foi casual. O título original do panfleto foi: O Direito à Preguiça. Refutação da religião de 1848. Ao escolher e propor como um direito um pecado capital, o autor visa diretamente ao que denomina ‘religião do trabalho’, o credo da burguesia (não só francesa) para dominar as mãos, os corações e as mentes do proletariado, em nome da figura assumida por Deus, o Progresso. Essa escolha é duplamente consistente ...” Sobre o Autor Paul Lafargue nasceu em Santiago de Cuba, em 1842. Neto (pelo lado paterno) de uma mulata de Santo Domingo e de uma índia Caraíba e um judeu de origem francesa (pelo lado materno), foi com os pais para Bordéus, em 1851. Inicia o curso de medicina em Paris, terminando-o, anos depois, em Londres, pois, tendo, num congresso de estudantes contra o Segundo Império de Luís Napoleão, proposto a supressão das cores oficiais francesas e sua substituição por uma bandeira e fitas vermelhas, foi expulso perpetuamente da Universidade de Paris. Franco-maçom e prudhoniano, ativo colaborador da revista La Rive Gauche, viaja a Londres em 1865, encontrando-se pela primeira vez com Engels e Marx, com cuja filha, Laura, se casará, em 1868. Desde 1866, participa do Conselho-Geral da Primeira Internacional (dirigido por Marx) e, em 1868, abandona o ramo francês daquela que iria tornar-se a grande adversária do Conselho no interior da Internacional, a Associação Internacional dos Trabalhadores (que viria a ser liderada por Bakunin), à qual se filiara anos antes. Durante a Comuna de Paris, em 1871, Lafargue se muda com a família para Bordéus (tem dois filhos e um terceiro a caminho; duas das crianças morreram com alguns meses de idade e o filho, Étienne, morreria aos dois anos, vítima de problemas gastrointestinais. Essas mortes fizeram Lafargue abandonar para sempre a prática da medicina. Seu nome é indicado para a eleição dos representantes municipais da Comuna, mas a derrota do movimento revolucionário e a violenta repressão que se abate sobre os communards e todos ligados a eles, o leva a partir com Laura eÉtienne para a Espanha, onde permanecerá exilado até o Congresso de Haia, de 1872, quando parte para a Holanda e, a seguir, retorna a Londres. Será por essa época que Marx, preocupado com o abatimento moral e a desorganização política que domina o operariado franc es, derrotado na Comuna e reprimido pelas forças republicanas, tentou, sem obter resposta, convencer Blanqui da necessidade de reorganizar a classe operária. Na ocasião, Marx recebe uma carta de Jules Guesde, communard e diretor do jornal L’Égalité, consultando-o sobre a criação de um partido operário socialista. O contato é feito por Lafargue que, mais tarde em companhia de Marx e Engels, auxilia na redação do programa do Partido Operário Francês, proposto por Guesde no “Congresso imortal” de outubro de 1872, em Marselha, quando, pela primeira vez, os operários franceses chamaram-se a si mesmos de revolucionários. É nesse período que, em 1880, Lafargue publica, na Revue Socialiste, trechos do Anti-Dühring, de Engels, traduzidos para o francês e organizados por ele e Laura com o título de Socialismo Utópico e Socialismo Científico. Nesse mesmo ano de 1880, entre 14 de junho e 4 de agosto, publica na revista guesdista L’Égalité a série de artigos que formam O Direito à Preguiça. Com essas duas publicações, o marxismo (ou mais exatamente, para se usar a terminologia de Lafargue e de sua época, o “determinismo econômico”), graças à descoberta da luta de classes como motor da história, se apresenta como via na qual se forma a consciência de classe operária e sua compreensão da necessidade histórica da ação revolucionária. Esses dois escritos reorientam a revista L’Égalité e fundamentam o programa do Partido Operário Francês. É a partir dessa época que Lafargue começará a redação de várias brochuras resumindo as idéias de Marx para divulgá-las entre os operários revolucionários franceses. Lafargue é considerado o principal responsável pelo surgimento do marxismo francês do final do século XIX e início do século XX e, para muitos, seus textos de crítica literária (com análises das obras de Chateaubriand, Hugo, Flaubert, zola e Balzac) dão início à chamada “estética marxista”, que terá em Lukács seu maior expoente. Paul e Laura Lafargue cometeram eutanásia no dia em que ele completou 70 anos, a 25 de novembro de 1911. Na noite do dia 24 foram à ópera e na manhã do dia 25 foram encontrados serenamente sentados em sua sala de visitas, mortos com uma dose de veneno injetada nas veias. Sobre a mesa, uma carta explicava que seu gesto era de amor, pois não desejaram tornar-se uma carga e um fardo para família, amigos e companheiros de luta quando a velhice os privasse de capacidade intelectual e de vigor corporal para as tarefas revolucionárias.
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