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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Orgulho da cor

EM DIÁLOGO COM OUTROS PAÍSES, O MOVIMENTO NEGRO BRASILEIRO CRESCEU NOS ANOS 1970 SOB VIGILÂNCIA DA DITADURA, PARA SE AFIRMAR NA DEMOCRACIA


  • No Dia da Consciência Negra, a RHBN Online destacou um artigo dos pesquisadores Amilcar Araújo Pereira e Verena Alberti, publicado em setembro de 2008, que contra a história do movimento negro brasileiro em plena ditadura militar. O levante encorpou diante do assassinato do jovem negro Robson Silveira da Luz acusado de roubar frutas numa feira, e na discriminação sofrida por quatro meninos negros impedidos de treinar vôlei no time infantil do Clube de Regatas Tietê.
    As lutas, porém, começaram desde a abolição, como explica o artigo “Consciência de cor”, publicado em setembro de 2007. Em 1903, por exemplo, nascia o jornal “O Baluarte”, anunciado como “órgão oficial do Centro Literário dos Homens de Cor e dedicado à defesa da classe”. Era comum jornais dirigidos por negros denunciando o preconceito, defendendo o bom comportamento e apostando na formação de uma consciência racial
    Mas, como a luta continua, confira a programação culturalsobre consciência racial que acontece até o fim do mês em várias capitais do país.

     


     

    Por Verena Alberti e Amilcar Araujo Pereira
    O Serviço Nacional de Informações (SNI), criado em 13 de junho de 1964 com a finalidade de coordenar as atividades de informação e contra-informação em todo o país, produziu inúmeros relatórios sobre assuntos julgados pertinentes à Segurança Nacional durante o regime militar. Num deles, de 14 de julho de 1978, podemos encontrar um relato sobre a manifestação, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, daquilo que se tornaria mais adiante o Movimento Negro Unificado (MNU), uma das entidades do movimento negro surgidas no Brasil na década de 1970.

    Realizou-se em São Paulo, no dia 7 julho de 1978, na área fronteiriça ao Teatro Municipal, junto ao Viaduto do Chá, uma concentração organizada pelo autodenominado “Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial”, integrado por vários grupos, cujos objetivos principais anunciados são: denunciar, permanentemente, todo tipo de racismo e organizar a comunidade negra. Embora não seja, ainda, um “movimento de massa”, os dados disponíveis caracterizam a existência de uma campanha para estimular antagonismos raciais no País e que, paralelamente, revela tendências ideológicas de esquerda. Convém assinalar que a presença no Brasil de Abdias do Nascimento, professor em Nova Iorque, conhecido racista negro, ligado aos movimentos de libertação na África, contribuiu, por certo, para a instalação do já citado “Movimento Unificado”.

    Esse documento, que se encontra no Arquivo Ernesto Geisel, depositado no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getulio Vargas, não é o único produzido pelos órgãos de informação da época sobre a atividade de militantes e organizações do movimento negro. Mas ele nos ajuda a situar a atuação desse movimento social na História do Brasil, mais especificamente no contexto da abertura política, iniciada em 1974. Desde o início da década de 1970, é possível registrar a formação de entidades que, como diz o relatório do SNI, buscavam denunciar o racismo e organizar a comunidade negra.


    Origem na morte de jovem
    Por exemplo, o Grupo Palmares, criado em Porto Alegre em 1971; o Centro de Estudos e Arte Negra (Cecan), aberto em São Paulo em 1972; a Sociedade de Intercâmbio Brasil-África (Sinba), inaugurada no Rio de Janeiro em 1974, e o Bloco Afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador também em 1974. Militantes de algumas dessas e de outras entidades articularam-se em 1978 para a realização do ato público ao qual o documento do SNI se refere. Sua motivação teve origem no assassinato do jovem negro Robson Silveira da Luz, no distrito policial de Guaianazes, para onde tinha sido levado preso, acusado de roubar frutas numa feira, e na discriminação sofrida por quatro meninos negros impedidos de treinar vôlei no time infantil do Clube de Regatas Tietê.
    A manifestação contou com a presença de Abdias do Nascimento, militante de longa data, que em 1968 havia se exilado nos Estados Unidos, onde foi professor em várias universidades. O fato de ser apontado como “conhecido racista negro” pelo relatório do SNI é um dado interessante e pode ser explicado pela forte atuação do movimento negro, naquela época, no sentido da denúncia do chamado “mito da democracia racial”, isto é, da ideia de que não haveria racismo no Brasil. Como Abdias do Nascimento, de acordo com o SNI, denunciava um racismo “inexistente”, ele mesmo seria racista. Outro documento, de janeiro do mesmo ano de 1978, advertia: “Esses movimentos, caso continuem a crescer e se radicalizar, poderão vir a originar conflitos raciais”.

    ‘Imprensa negra paulista’
    As organizações formadas na década de 1970 não foram as primeiras na história do país. Logo depois da abolição, no final do século XIX, já circulavam jornais voltados para as populações negras, como o Treze de Maio, do Rio de Janeiro (1888), e O Exemplo, de Porto Alegre (1892). Em São Paulo, a chamada “imprensa negra paulista” denunciava, nos anos 1920, a discriminação racial. Dela surgiram alguns dos fundadores da Frente Negra Brasileira, em 1931, que chegou a se transformar em partido político em 1936, mas logo foi extinta, como os demais partidos, pelo Estado Novo no ano seguinte. Na década de 1940 foram fundadas várias entidades, como a União dos Homens de Cor e o Teatro Experimental do Negro.
    Muitos dos documentos desse período mostram que não era rara a circulação de referenciais e informações de fora do Brasil, principalmente da África e dos Estados Unidos. O jornal O Clarim d’Alvorada, publicado de 1924 a 1932 em São Paulo, abrigava uma seção intitulada “O mundo negro”, na qual eram publicadas traduções de artigos do jamaicano Marcus Garvey (1887-1940), defensor do pan-africanismo. O jornal Quilombo, fundado por Abdias do Nascimento em 1948, reproduzia com freqüência artigos da revista Présence Africaine, publicada em Paris e Dacar a partir de 1947, sob a direção do senegalês Alioune Diop. Nos anos 1960, esse intercâmbio se intensificou diante das lutas de libertação das colônias africanas e da mobilização pelos direitos civis nos Estados Unidos. Como se viu no documento reproduzido acima, Abdias do Nascimento oferecia perigo, segundo os investigadores do SNI, porque estava “ligado aos movimentos de libertação na África”.

    As idéias que circulavam entre os militantes nos anos 1970 e 1980 e suas formas de ação – como o ato público realizado em São Paulo em 1978 – foram objeto da pesquisa “História do movimento negro no Brasil: constituição de acervo de entrevistas de história oral”, que desenvolvemos no CPDOC entre 2003 e 2007. A metodologia da história oral, que consiste na realização de entrevistas gravadas com testemunhos do passado, permite o registro de narrativas de experiência pessoal e o conhecimento de formas de articulação e de visões de mundo de pessoas e grupos.

    Antenados com a luta racial no exterior
    Essas entrevistas nos permitiram perceber que, além dos poetas de língua francesa, que continuaram a ser lidos e discutidos, e da luta contra o apartheid, regime de segregação racial que vigorou na África do Sul entre 1948 e 1992, outro assunto que mobilizava as atenções era a independência dos países africanos de colonização portuguesa – Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe –, ocorrida entre 1974 e 1975, poucos anos antes do ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. É recorrente, por exemplo, a menção aos Poemas de Angola, de Agostinho Neto, fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola e primeiro presidente do país, em 1975.
    Muitas vezes, essas leituras são lembradas como cruciais para a conscientização do entrevistado e para sua opção pela militância. A descoberta de si mesmo como negro se mesclava a uma tomada de posição política, levando a atitudes que, nos dias de hoje, já não têm o mesmo peso. O simples ato de comprar uma revista, por exemplo, era decisivo. Foi o que nos contou Carlos Alberto Medeiros, militante do movimento negro no Rio de Janeiro desde a década de 1970:

    Eu trabalhava no Jornal do Brasil, que era na Avenida Rio Branco 110. Eu passava lá e via revistas estrangeiras nas bancas de jornal. E havia uma revista da qual eu já ouvira falar no Rio Grande do Sul, a revista Ebony. Eu passava, via a revista, tinha até alguma curiosidade. Mas até para comprar a revista a primeira vez eu tive que romper com alguma coisa. Porque comprar uma revista de negros tinha um significado de identificação. Eu já tinha um domínio do inglês que dava para ler. Até que um dia eu comprei. E era final da segunda metade de 1969, na época em que estava aquela coisa do black is beautiful, do cabelo afro. E aquilo foi quase um amor à primeira vista. Bati o olho e falei: “É isso que falta.”

    Publicações do gênero influenciavam a formação e a disseminação de uma consciência da negritude. Magno Cruz, importante referência do movimento no Maranhão desde o início dos anos 1980, relata como foi atingido por essa estratégia inicial. Em 1979, ele chegou a assinar a ata de criação do Centro de Cultura Negra (CCN) local, a convite de sua fundadora, Mundinha Araújo. Mas levou certo tempo até atuar como militante:

    Eu sou fundador fictício, porque não fui fundador orgânico que estava lá no início, nas primeiras reuniões. Qual era a minha resistência em me engajar no trabalho do CCN? Eu não me considerava negro. Inclusive o meu apelido na faculdade era Moreno. E eu era crente que eu era moreno. Pensava: como ia participar de uma entidade do movimento negro se eu não me considerava negro? Mas, com os seminários e com as palestras, que houve muito, eu fui mudando. A Mundinha deu o encaminhamento que eu acho que foi o melhor possível, porque foi de formação. As primeiras reuniões eram reuniões de estudo. Era uma sala, talvez um pouquinho maior do que essa aqui; quando iam mais de 30 pessoas, tinha que ficar gente do lado de fora. E era texto para a gente ler, jornal para a gente ler, para discutir, livros... Ninguém sabia nada sobre a história do negro. E aí, com esses cursos, esses seminários de que eu fui participando, eu fui percebendo que era negro.

    Postura afro
    A essa estratégia de mobilização somavam-se várias outras, como a adoção do penteado afro, a produção de audiovisuais, jornais e panfletos, a difusão de informações em feiras e locais públicos, a montagem de peças de teatro e a organização de grupos de dança e de blocos afro. Encontros estaduais e regionais estimulavam o crescimento do movimento negro. Em agosto de 1980, ocorreu o I Encontro Memorial Zumbi, em Alagoas, com a presença de líderes nacionais, como Abdias do Nascimento e a antropóloga Lélia Gonzalez (1935-1994). O evento impulsionou a realização dos Encontros de Negros do Norte e Nordeste, iniciados no ano seguinte. A partir de meados da década de 1980, registram-se outros encontros em diferentes estados, além dos Encontros de Negros do Sul-Sudeste e dos Encontros Estaduais e Nacionais de Mulheres Negras. O I Encontro Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas, realizado em 1995, deu origem à Comissão Nacional de Articulação das Comunidades Rurais Quilombolas, criada em 1996.
    A metodologia da história oral permite conhecer não só como essas iniciativas ocorreram na prática, mas também de que modo, a partir delas, as reivindicações do movimento negro acabaram sendo trazidas pelos militantes para a esfera pública. Trata-se, pois, de uma ferramenta importante para o estudo da história política. Hoje existem diversas secretarias voltadas para a promoção da igualdade racial, no governo federal e em governos estaduais e municipais, e novos artigos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB de 1996, que tornam obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas do país e incluem o dia 20 de novembro no calendário escolar como “Dia Nacional da Consciência Negra”.
    Aliás, o primeiro ato evocativo de celebração do 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, foi realizado pelo Grupo Palmares, de Porto Alegre, em 1971. Passados sete anos, a segunda assembléia nacional do MNU, realizada em Salvador em novembro de 1978, declarou a data o “Dia Nacional da Consciência Negra”, que hoje é feriado em mais de duzentos municípios do país. Este é um exemplo bastante evidente do trabalho de disputa pela memória nacional, que culminou com a inscrição do nome de Zumbi no livro dos heróis da pátria, em 20 de novembro de 1996.

    Movimento se espalha pelo país
    Outra possibilidade aberta pela realização de pesquisas de história oral é o acesso a experiências e interpretações do passado que não são necessariamente aquelas consagradas por uma “história nacional”. Esse pluralismo é facilmente compreendido quando percebemos que as entrevistas nos apresentam novas periodizações. Do ponto de vista de nossos entrevistados, a repercussão nacional do ato público nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, em 1978, possibilitou a criação de muitas organizações em diferentes estados do país e acabou sendo responsável pela difusão da noção de “movimento negro” como designação genérica para as diversas entidades e ações a partir daquele momento.
    O marco seguinte foi o ano de 1988, por duas razões: comemorava-se o centenário da Abolição, o que motivou uma série de ações de protesto que denunciavam as condições de vida dos negros no país, e elaborava-se uma nova Constituição. Duas importantes reivindicações do movimento viraram texto constitucional – a criminalização do racismo (Artigo 5) e o reconhecimento da propriedade das terras de remanescentes de quilombos (Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Os anos de 1995 e 2001 são os dois momentos seguintes. Em 1995 foi realizada em Brasília uma marcha em homenagem aos trezentos anos da morte de Zumbi dos Palmares. Era o primeiro ano do governo Fernando Henrique Cardoso, que criou então um Grupo de Trabalho Interministerial para a Valorização da População Negra, dando a partida nas primeiras iniciativas de ação afirmativa na administração pública federal. E 2001 foi o ano da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, realizada na cidade de Durban, na África do Sul, que mobilizou o governo e as entidades do movimento negro em sua preparação e resultou em novos acontecimentos, como a reserva de vagas para negros em algumas universidades do país e novos compromissos assumidos pelo Estado em âmbito internacional.
    O estudo da História se enriquece quando conhecemos novas periodizações, atuações e experiências, mas isso não significa que podemos esquecer os marcos nacionais. A história do movimento negro no Brasil não deve ser entendida como “descolada” da história contemporânea, tanto do Brasil como do mundo. Os marcos aqui registrados fazem sentido para o movimento negro e também para a história nacional, pois se relacionam com conjunturas como a abertura política, o centenário da Abolição, a Constituinte e o governo Fernando Henrique Cardoso, entre outros. Eles tiram sentido desses contextos e emprestam-lhes novos sentidos. Esta é a riqueza da história oral.
    E convém não esquecer que, no próprio universo pesquisado, as trajetórias e opiniões nunca são unânimes. Em nossa pesquisa, ouvimos pessoas de diferentes regiões e muitas vezes de posições divergentes, o que permite perceber a pluralidade de experiências e avaliações entre os próprios militantes. Mas não há dúvida de que todos tiveram por objetivo o combate ao racismo e a luta pela melhoria das condições de vida das populações negras.


    Verena Alberti é pesquisadora do Programa de História Oral do CPDOC da Fundação Getulio Vargas e professora de História da Escola Alemã Corcovado, no Rio de Janeiro.
    Amilcar Araujo Pereira é doutorando em História na Universidade Federal Fluminense (UFF) e bolsista do CNPq. Ambos são organizadores do livro Histórias do movimento negro no Brasil (Rio de Janeiro: Pallas, 2007).

    Saiba Mais - Livros:
    HANCHARD, Michael. Orfeu e o poder: o movimento negro no Rio de Janeiro e em São Paulo (1945-1988). Rio de Janeiro: EdUerj, 2001.
    LEITE, José Correia. ...E disse o velho militante José Correia Leite: depoimentos e artigos. Organização e textos: Cuti (Luiz Silva). São Paulo: Secretaria Municipal de Cultura, 1992.
    PEREIRA, Amauri Mendes. Trajetória e perspectivas do movimento negro brasileiro. Rio de Janeiro: Comissão de Combate às Discriminações e Preconceitos de Raça, Cor, Etnia, Religião e Procedência Nacional da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, 2005.
    SANTOS, Joel Rufino dos. “A luta organizada contra o racismo”. In: Barbosa, Wilson do Nascimento (org). Atrás do muro da noite; dinâmica das culturas afro-brasileiras. Brasília: Ministério da Cultura, Fundação Cultural Palmares, 1994.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Igrejas barrocas do Recife são um passeio pela história e cultura da cidade

Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR 
24/11/2011 | 16h24 | Rococó



Detalhes, vitrais, jogo de luzes e sombras. Percorrer as igrejas do Recife é uma verdadeira aula de arte, história e cultura. Tanto que a maioria delas está incluída nos roteiros religiosos de maior destaque no estado. E foram justamente 11 destas igrejas que serviram de inspiração para o lançamento do livro ′Igrejas Barrocas do Recife`, que será lançado nesta quinta-feira (24), pelo fotógrafo Rildo Moura. O trabalho foca nas construções erguidas durante o período barroco e rococó.

Entre todas as igrejas barrocas de Pernambuco, a de maior influência é a Capela Dourada, também chamada Capela dos Noviços, pertencente à Venerável Ordem Terceira de São Francisco do Recife. Localizada na Rua do Imperador, bairro de Santo Antônio, a igreja foi construída entre os anos de 1696 e 1724. O forro do teto é feito de caixotões pintados em 1696. Seu interior é todo talhado em madeira, do tipo cedro, recoberta com gesso e lâminas de ouro. Os azulejos que adornam a sala principal foram trazidos de Portugal no período entre 1704 e 1724. Destaque para as esculturas de 1840, que decoram a Capela, nas quais foram utilizados cabelos humanos. No século 19, era comum mulheres que não tinham como contribuir financeiramente com a igreja, atenderem ao apelo religioso, doando seus cabelos. Era uma forma de dar maior veracidade à história contada pela igreja.

A Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento de Santo Antônio também traz influência barroca, principalmente em sua fachada. As portas, de madeira entalhada, com almofadões volumosos denunciam o estilo rococó. A matriz começou a ser construída em 1752, no terreno onde antes havia trincheiras construídas pelos holandeses, mas só foi conluída em 1790. A decoração do interior, porém, só foi concluída no século 19, com a capela-mor ornamentada com painéis pintados Sebastião da Silva tavares e Manuel de Jesus Pinto.Foi também durante o período de invasão holandesa, que a Igreja Nossa Senhora do Terço, começou a ser instalada no bairro de São José, na antiga Rua dos Copiares, hoje chamada de Rua Cristóvão Colombo. Lá, nas primeiras décadas do século 18, existia um nicho com a imagem de Nossa Senhora, onde os viajantes rezavam o terço à santa. Este foi o motivo pelo qual a igreja foi erguida ali. O estilo barroco está presente em toda a sua construção. Destaque para o alto da torre, formado por azulejos, jarros ornamentais, uma pequena cruz com anjos e um relógio.

Foi com a fundação do primeiro convento carmelita, em 1584, em Olinda, quando a primeira festividade brasileira em homenagem a Nossa Senhora do Carmo foi realizada. Mas só foi em 1665 que a basílica em honra da santa foi criada. A igreja segue o estilo rococó , com o brasão da Ordem Carmelita instalado no frontispício do corpo principal. Sua decoração em talha dourada é de valor inestimável. Entre os pontos altos destacam-se os doze altares secundários e a capela-mor, com uma imagem em tamanho natural de Nossa Senhora do Carmo, ladeada de anjos e santos, numa moldura de talhada em detalhes ricos.

A Igreja de São Pedro dos Clérigos está localizada em frente ao Pátio de São Pedro e conserva em seu entorno um conjunto bucólico de 29 casas baixas coloniais. O Pátio possui um calçamento de pedras do século 19, que formam um conjunto tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1938. Diferente da maioria das igrejas, a estrutura da catedral é verticalizada, com uma porta talhada em detalhes barrocos. No interior, outro belo trabalho em talha, com elementos rocoó nos balcões, capela-mor e na nave.

A cultura africana é retratada com detalhes na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, fundada entre os anos de 1662 e 1667, no período do reinado de D. Afonso VI de Portugal. No altar existem os santos negros como o rei Baltazar, São Elesbão, São Benedito, Santo Antonio de Catagerona e Santa Ifigênia. A rua na frente da igreja recebeu a denominação de Rua Estreita do Rosário.




Por Elian Balbino

História política do País ganha recorte em exposição

Espaços presentes no cotidiano que serviram de palcos para manifestações populares entre 1960 e 1990 ­- como a Praça da Sé e o Instituto Cultural Israelita Brasileiro - serão retratados na exposição "Lugares da Memória: Resistência e Repressão em São Paulo", que será aberta no sábado, a partir das 11h, no Memorial da Resistência de São Paulo, na Capital.

Com curadoria assinada pela museóloga Kátia Felipini e pelo jornalista Vladimir Sacchetta, a montagem abarcará cerca de 100 fotografias e documentos, além de 50 recortes de jornais. Este acervo pertence ao Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, sob a guarda do Arquivo Público do Estado.

O Memorial da Resistência também convidará pesquisadores, perseguidos políticos e demais cidadãos a depositarem em uma urna, situada no próprio espaço expositivo, breve ficha com indicações de outros lugares que serviram de palcos para manifestações populares dentro do estado de São Paulo.


Lugares da Memória: Resistência e Repressão em São Paulo Exposição. Abertura no sábado, das 11h às 14h. No Memorial da Resistência de São Paulo - Largo General Osório, 66, São Paulo. Visitação: de terça-feira a domingo, das 10h às 17h30. Grátis. Até 18 de março.

Do Diário do Grande ABC

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domingo, 20 de novembro de 2011

Escavação do Cemitério dos Pretos Novos revela um drama sob o chão da cidade

Um drama sob o chão da cidade

Análise do Cemitério dos Pretos Novos destaca colossal dimensão da escravidão no Rio

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A obra "Enterro de uma negra" mostra a importância do funeral na cultura dos escravos Foto: Reprodução
A obra "Enterro de uma negra" mostra a importância do funeral na cultura dos escravosREPRODUÇÃO
Sepultada por toneladas de terra e séculos de esquecimento, jaz no Centro antigo do Rio, uma dolorosa memória da escravidão. São os resquícios do Cemitério dos Pretos Novos, cimentados sob os bairros da Gamboa e da Saúde. Eles reaparecem aos poucos, em escavações, análises de ossos, dentes e objetos. Cada um deles revela um pouco mais de uma história que assombra pelas dimensões da crueldade e da ambição que trouxeram da África milhões de escravos para o Rio. Uma dessas análises foi concluída este ano e confirma a tese de que a cidade foi um dos maiores portos de entrada de escravos das Américas.
Pessoas escravizadas originárias de quase todas as partes da África chegavam ao Rio e daqui podiam ser levadas para o restante do país. Muitas não resistiam às condições desumanas da travessia do Atlântico ou do mercado de escravos do Rio e eram enterradas perto do porto. O termo enterro é, de fato, um eufemismo. Os corpos eram abandonados à decomposição ou queimados.
Nos anos 1990, alguns desses corpos foram encontrados durante a reforma de uma casa na Rua Pedro Ernesto, na Gamboa. Arqueólogos do Instituto de Arqueologia Brasileira fizeram ali em 1996 um resgate do que fora acidentalmente exposto, publicando depois os primeiros estudos. Mas foi só este ano que cientistas concluíram uma análise mais detalhada dos dentes e ossos. Um trabalho de detetive, com tecnologia moderna, para investigar um drama de quase 200 anos. Apoiada pelo CNPq e pela Faperj, a pesquisa reuniu cientistas da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), do Museu Nacional/UFRJ, do Laboratório Geochronos da UnB e da Universidade de Indiana, nos EUA.
— Há vestígios de 30 pessoas. Estão muito degradados — diz Sheila Mendonça, bioantropóloga da Ensp.
O DNA, de tão degradado, por enquanto nada revelou. Mas os pesquisadores recorreram a uma técnica diferente e menos conhecida pelo público. Chamada de análise de isótopos de estrôncio, ela mede a proporção desse elemento químico nos dentes. É uma espécie de DNA geoquímico. O estrôncio é um metal de nome estranho e características curiosas. Essas proporções são assinaturas geoquímicas que dependem das características das rochas de uma dada região.
— A análise do estrôncio do esmalte dos dentes permanentes, que são formados na infância e não se remodelam, revela um indício de onde viveu uma pessoa nos primeiros anos de vida — explica Ricardo Ventura Santos, coordenador do grupo, da Ensp e pesquisador do Setor de Antropologia Biológica do Museu Nacional.
A diversidade geológica na África compreende quase toda aquela existente no planeta. O estrôncio extraído dos dentes das pessoas enterradas no Cemitério dos Pretos Novos reflete essa diversidade planetária.
— As pessoas ali vieram de todas as partes da África. Nosso estudo reforça como o tráfico de escravos era uma prática espalhada pelo continente africano. Indica também as monumentais dimensões do tráfico realizado pelo porto do Rio — destaca Ventura.
O Cemitério dos Pretos Novos foi criado pelo Marquês do Lavradio em 1760. Por 70 anos, funcionou ali uma fábrica de horrores. O marquês se viu obrigado a abrir um novo cemitério depois que o porto de escravos foi transferido da Praça XV para o Valongo (atual Rua Camerino).
— Temos que levar em conta que nosso conceito moderno de cemitério não se aplica ao que existia àquela época. O Cemitério dos Pretos Novos consistia em um lugar cercado, onde os corpos eram queimados ou deixados insepultos. Covas eram abertas e corpos, empilhados — explica Sheila.
Os pesquisadores calculam que lá tenham sido enterradas, pelo menos, de 20 mil a 30 mil pessoas. O Cemitério dos Pretos Novos era o destino de muitos dos que já chegavam doentes. Ele podia ser avistado do porto e do mercado de escravos do Valongo, para horror dos cativos. O cemitério passou a receber os enterros antes destinados ao Largo de Santa Rita, em frente à Igreja de Santa Rita.
— Não existem estimativas da taxa de mortalidade dos escravos que chegavam ao porto, mas sabemos que deveria ser elevadíssima. Um dos aspectos importantes das pessoas enterradas lá reside no fato que, ao que tudo indica, apenas 5% das pessoas enterradas lá não eram escravas. Isso torna o Cemitério dos Pretos Novos o mais africano do Brasil — diz Sheila.
Ela, Ricardo e outros pesquisadores, incluindo Murilo Quintans Bastos e Roberto Ventura, da UnB, buscam pistas sobre as origens dessas pessoas mortas pouco após o desembarque. Com as histórias dos mortos esperam dar vida a um dos menos conhecidos capítulos da história da escravidão no Brasil.
Depois que o cemitério foi fechado (por motivos “sanitários” e legais, já que o tráfico de escravos foi proibido), a cidade começou a aterrar o pântano e a praia. Terra e areia cobriram os restos dos mortos e a memória. A Rua do Cemitério, por exemplo, hoje chamase Pedro Ernesto.
Até agora, nunca houve escavações contínuas na região dos Pretos Novos. O material analisado é resultado do trabalho da bioarqueóloga Lilia Cheuiche Machado, do IAB. Lilia observou que a maioria dos mortos era de homens jovens, inclusive crianças.
— Todo o material que analisamos vem de quatro buracos. Os ossos estavam misturados — analisa Sheila.
Das 30 pessoas, só duas estavam fora do padrão esperado. Um era um homem mais velho, que poderia viver no Rio há mais tempo, e outro talvez não fosse africano.
— Todos os demais eram africanos recém-chegados. Um dos aspectos que nos chamou a atenção foi encontrar dentes com sinais de polimento — observa Sheila.
O polimento é fruto de uma forma de higiene oral praticada por muitos povos africanos.
— Esse polimento era resultado da mastigação de plantas específicas, funcionava como pasta de dentes. Mas só há sinais da prática em recém-chegados. Depois, elas não tinham mais como limpar os dentes dessa forma e os sinais desapareciam. Alguns dos que analisamos possuíam sinais bem claros, indicando que deveriam ter chegado há pouco tempo — frisa Sheila.
Ao analisar marcas de polimento talvez seja possível identificar que espécies eram usadas, onde existiam e, assim, de onde veio a pessoa que as utilizavam. O trabalho continua. Mas será fundamental que escavações revelem mais restos mortais e busquem reconstruir outros dramas pessoais integrantes de um dos mais dolorosos momentos da história do Brasil.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/um-drama-sob-chao-da-cidade-3273683#ixzz1eFqTv6vx
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quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Quando a História vai abaixo



Sede do 6º BPM deve ser demolida, e ideia enfrenta resistências de moradores e especialistas

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FACHADA DA sede do 6º BPM, na Rua Barão de Mesquita Foto: Pedro Kirilos / Pedro Kirilos

FACHADA DA sede do 6º BPM, na Rua Barão de MesquitaPEDRO KIRILOS / PEDRO KIRILOS
O relógio no alto da sede já conta as horas para o início do processo de reconstrução do 6º BPM (Tijuca). A ideia partiu do chefe do Estado-Maior Administrativo da Polícia Militar, coronel Robson Rodrigues, e prevê a transformação do espaço físico onde os policiais trabalham, que hoje tem características de quartel. Segundo a assessoria da PM, o projeto ainda não está fechado, mas é bastante provável que o prédio histórico, construído em 1924, seja demolido.
O objetivo do governador Sérgio Cabral é transformar as antigas instalações em edifícios modernos. O segundo passo, de acordo com a PM, é implantar um novo modelo de batalhão, com os policiais mais próximos dos moradores. Existe até uma ideia, ainda em estudo, de realizar um campeonato de futebol dentro do batalhão com times dos bairros próximos e das comunidades pacificadas.
O sucesso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) da Grande Tijuca (Andaraí, Borel, Formiga, Macacos, Salgueiro e Turano) levou o comando da Polícia Militar a escolher o 6º BPM para o início do projeto, que vai se espalhar para outros batalhões. No entanto, a assessoria de imprensa da PM destaca que o policiamento de rua não sofrerá mudanças e continuará distinto do trabalho realizado nas UPPs. A Polícia Militar considera que os policiais das unidades pacificadoras têm outra dinâmica.
O projeto de demolição da sede do 6º BPM encontra resistência por parte de moradores da região.
— Concordo que pode ser benéfico aproximar os policiais dos moradores. Mas, para isso acontecer, é só mudar a forma de atuação. Não precisa derrubar um prédio histórico — diz o professor Antônio Oliveira, que mora próximo.
De acordo com Alfredo Britto, professor de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Rio, uma análise detalhada deve ser feita.
— A convivência entre o antigo e o novo é saudável. Mas, antes, é preciso verificar se o antigo tem valor arquitetônico e cultural e se pode mesmo ir embora.


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