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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

À Margem da História - Euclides da Cunha


 Terra Sem História (Amazônia): Impressões Gerais
Ao revés da admiração ou do entusiasmo, o que nos sobressalteia geralmente, diante do
Amazonas, no desembocar do dédalo florido do Tajapuru, aberto em cheio para o grande rio, é antes
um desapontamento. A massa de águas é, certo, sem par, capaz daquele terror a que se refere
Wallace; mas como todos nós desde mui cedo gizamos um Amazonas ideal, mercê das páginas
singularmente líricas dos não sei quantos viajantes que desde Humboldt até hoje contemplaram a
hiléia prodigiosa, com um espanto quase religioso — sucede um caso vulgar de psicologia: ao
defrontarmos o Amazonas real, vemo-lo inferior à imagem subjetiva há longo tempo prefigurada.
Além disto, sob o conceito estritamente artístico, isto é, como um trecho da terra desabrochando em
imagens capazes de se fundirem harmoniosamente na síntese de uma impressão empolgante, é de
todo em todo inferior a um sem número de outros lugares do nosso país. Toda a Amazônia, sob este
aspeto, não vale o segmento do litoral que vai de Cabo Frio à Ponta do Munduba.
É, sem dúvida, o maior quadro da Terra; porém chatamente rebatido num plano horizontal
que mal alevantam de uma banda, à feição de restos de uma enorme moldura que se quebrou, as
serranias de arenito de Monte Alegre e as serras graníticas das Guianas. E como lhe falta a linha
vertical, preexcelente na movimentação da paisagem, em poucas horas o observador cede às fadigas
de monotonia inaturável e sente que o seu olhar, inexplicavelmente, se abrevia nos sem-fins
daqueles horizontes vazios e indefinidos como os dos mares.
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