A Idade Média é o período histórico compreendido entre os anos de 476 ( queda de Roma ) ao ano de 1453 ( a queda de Constantinopla).
Este período apresenta uma divisão, a saber:
ALTA IDADE MÉDIA ( do século V ao século IX )
Fase marcada pelo processo de formação do feudalismo.
BAIXA IDADE MÉDIA ( do século XII ao século XIV )
Fase caracterizada pela crise do feudalismo.
Entre os séculos IX e XII observa-se a cristalização do Sistema Feudal.
Posto isto, vamos dividir o estudo do período medieval em duas partes.
Nesta revisão abordaremos a Alta Idade Média e na próxima revisão veremos o Feudalismo e a Baixa Idade Média.
ALTA IDADE MÉDIA
Período do século V ao século IX é caracterizado pela formação do Sistema Feudal.
Neste período observa-se os seguintes processos históricos: a formação dos Reinos Bárbaros, com destaque para o Reino Franco; o Império Bizantino -parte oriental do Império Romano - e a expansão do Mundo Árabe. Grosso modo, a Alta Idade Média representa o processo de ruralização da economia e sociedade da Europa.
1. OS REINOS BÁRBAROS
Para os romanos, "bárbaro" era todo aquele povo que não possuía uma cultura greco-romana e que, portanto, não vivia sob o domínio de sua civilização. Os bárbaros que invadiram e conquistaram a parte ocidental do Império Romano eram os Germânicos, que viviam em um estágio de civilização bem inferior, em relação aos romanos. Eles não conheciam o Estado e estavam organizados em tribos.
As principais tribos germânicas que se instalaram na parte ocidental de Roma foram:
Os Anglo-Saxões, que se estabeleceram na Grã-BretanhaOs Visigodos estabeleceram-se na EspanhaOs Vândalos fixaram-se na África do NorteOs Ostrogodos que se instalaram na ItáliaOs Suevos constituíram-se em PortugalOs Lombardos no norte da ItáliaOs Francos que construíram seu reino na França.
Os Germânicos não conheciam o Estado, vivendo em comunidades tribais - cuja principal unidade era a Família. A reunião de famílias constituía um Clã e o agrupamento de clãs formava a Tribo. A instituição política mais importante dos povos germânicos era a Assembléia de Guerreiros, responsável por todas as decisões importantes e chefiada por um rei ( rei que era indicado pela Assembléia e que, por isto mesmo, controlava o seu poder ). Os jovens guerreiros se uniam -em tempos de guerra -a um chefe militar por laços de fidelidade, o chamado Comitatus.
A sociedade germânica era assim composta:
NobrezaFormada pelos líderes políticos e grandes proprietários de terras;Homens-livresPequenos proprietários e guerreiros que participavam da Assembléia;Homens não-livresOs vencidos em guerras que viviam sob o regime de servidão e presos à terra e os escravos - grupo formado pelos prisioneiros de guerra.
Economicamente, os germânicos viviam da agricultura e do pastoreio. O sistema de produção estava dividido nas propriedades privadas e nas chamadas propriedades coletivas ( florestas e pastos ).
A religião era politeísta e seus deuses representavam as forças da natureza.
Como vimos na aula 02, o contato entre Roma e os bárbaros, a princípio, ocorreu de forma pacífica até meados do século IV. À partir daí, a penetração germânica deu-se de forma violenta, em virtude da pressão dos hunos.
Também contribuíram para a radicalização do contato: crescimento demográfico entre os germanos, a busca por terras férteis, a atração exercida pelas riquezas de Roma e a fraqueza militar do Império Romano.
Entre os povos germânicos, os Francos são aqueles que irão constituir o mais importante reino bárbaro e que mais influenciarão o posterior desenvolvimento europeu.
O REINO FRANCO
A história do Reino Franco desenvolve-se sob duas dinastias:
Dinastia dos Merovíngios ( século V ao século VIII )Dinastia dos Carolíngios ( século VIII ao século IX )
OS MEROVÍNGIOS
O unificador das tribos francas foi Clóvis ( neto de Meroveu, um rei lendário que dá nome a dinastia). Em seu reinado houve uma expansão territorial e a conversão dos Francos ao cristianismo. A conversão ao cristianismo foi de extrema importância aos Francos que passam a receber apóio da Igreja Católica; e para a Igreja Católica que terá seu número de adeptos aumentado, e contará com o apóio militar dos Francos.
Com a morte de Clóvis, inicia-se um período de enfraquecimento do poder real, o chamado Período dos reis indolentes. Neste período, ao lado do enfraquecimento do poder real haverá o fortalecimento dos ministros do rei, o chamado Mordomo do Paço (Major Domus).
Entre os Mordomos do Paço, mercerem destaque: Pepino d'Herstal, que tornou a função hereditária; Carlos Martel, que venceu os árabes na batalha de Poitiers, em 732 e Pepino, o Breve, o criador da dinastia Carolíngia.
A Batalha de Poitiers representa a vitória cristã sobre o avanço muçulmano na Europa. Após esta batalha, Carlos Martel ficou conhecido como "o salvador da cristandade ocidental".
OS CAROLÍNGIOS
Dinastia iniciada por Pepino, o Breve. O poder real de Pepino foi legitimado pela Igreja, iniciando-se assim uma aliança entre o Estado e a Igreja - muito comum na Idade Média, bem como o início de uma interferência da Igreja em assuntos políticos.
Após a legitimação de seu poder, Pepino vai auxiliar a Igreja na luta contra os Lombardos. As terras conquistadas dos Lombardos foram entregues à Igreja, constituindo o chamado Patrimônio de São Pedro. A prática de doações de terras à Igreja irá transformá-la na maior proprietária de terras da Idade Média.
Com a morte de Pepino, o Breve e de seu filho mais velho Carlomano, o poder fica centrado nas mãos de Carlos Magno.
O IMPÉRIO CAROLÍNGIO
Carlos Magno ampliou o Reino Franco por meio de uma política expansionista. O Império Carolíngio vai compreender os atuais países da França, Holanda, Bélgica, Suiça, Alemanha, República Tcheca, Eslovênia, parte da Espanha, da Áustria e Itália.
A Igreja Católica, representada pelo Papa Leão III, vai coroá-lo imperador do Sacro Império Romano, no Natal do ano 800.
O vasto Império Carolíngio será administrado através das Capitulares, um conjunto de leis imposto a todo o Império.
O mesmo será dividido em províncias: os Condados, administrados pelos condes; os Ducados, administrados pelos duques e as Marcas, sob a tutela dos marqueses. Condes, Duques e Marqueses estavam sob a vigilância dos Missi Dominici -funcionários que em nome do rei inspecionavam as províncias e controlavam seus administradores.
Os Missi Dominici atuavam em dupla: um leigo e um clérigo.
No reinado de Carlos Magno a prática do benefício (beneficium) foi muito difundida, como forma de ampliar o poder real. Esta prática consistia na doação de terras a quem prestasse serviços ao rei, tendo para com ele uma relação de fidelidade. Quem recebesse o benefício não se submetia à autoridade dos missi dominici. Tal prática foi importante para a fragmentação do poder nas mãos de nobres ligados à terra em troca de prestação de serviços -a origem do FEUDO.
Na época de Carlos Magno houve um certo desenvolvimento cultural, o chamado Renascimento Carolíngio, caracterizado pela promoção das atividades culturais, através da criação de escolas e pela vinda de sábios de várias partes da Europa, tais como Paulo Diácono, Eginardo e Alcuíno - monge fundador da escola palatina.
Este "renascimento" contribuiu para a preservação e a transmissão de valores da cultura clássica ( greco-romana ). Destaque para a ação dos mosteiros, responsáveis pela tradução e cópia de manuscritos antigos.
DECADÊNCIA DO IMPÉRIO CAROLÍNGIO
Com a morte de Carlos Magno, em 814, o poder vai para seu filho Luís, o Piedoso, o qual conseguiu manter a unidade do Império. Com a sua morte, em 841, o Império foi dividido entre os seus filhos.
A divisão do Império ocorreu em 843, com a assinatura do Tratado de Verdun estabelecendo que:
Carlos, o Calvo ficasse com a parte ocidental ( a França atual)Lotário ficasse com a parte central ( da Itália ao mar do Norte)Luís, o Germânico ficasse com a parte oriental do Império.
Após esta divisão, outras mais ocorrerão dentro do que antes fora o Império Carolíngio. Estas divisões fortalecem os senhores locais, contribuindo para a descentralização política que, somada a uma onda de invasões sobre a Europa, à partir do século IX ( normandos, magiares e muçulmanos ) contribuem para a cristalização do feudalismo.
A expansão Islâmica ocorreu em três momentos:
1ª etapa ( de 632 a 661 )
Conquistas da Pérsia, da Síria, da Palestina e do Egito
2ª etapa ( de 661 a 750 )
A Dinastia dos Omíadas, que expandiu as fronteiras até o vale do Indo (Índia); conquistou o Norte da África até o Marrocos e a Península Ibérica na Europa. O avanço árabe sobre a Europa foi contido por Carlos Martel, em 732 na batalha de Poitiers.
3ª etapa ( de 750 a 1258 )
A Dinastia dos Abássidas, onde ocorre a fragmentação político-territorial e a divisão do Império em três califados: de Bagdá na Ásia, de Cordova na Espanha e do Cairo no Egito.
Após esta divisão, do mundo Islâmico será constante até que no ano de 1258 Bagdá será destruída pelos mongóis.
AS CONSEQÜÊNCIAS DA EXPANSÃO
A expansão árabe representou um maior contato entre as culturas do Oriente e do Ocidente. No aspecto econômico a expansão territorial provocará o bloqueio do mar Mediterrâneo, contribuindo para a cristalização do feudalismo europeu, ao acentuar o processo de ruralização e fortalecendo a economia de consumo.
A CULTURA ISLÂMICA
Literatura: poesias épicas e fábulas. Destaque para os contos de aventuras, como As Mil e uma Noites.Ciências: muito práticos os árabes aplicaram o raciocínio lógico e o experimentalismo. Desenvolveram a Matemática ( álgebra e trigonometria ), a Química ( alquimia ), Medicina ( sendo Avicena o grande nome ) e a Filosofia ( estudo de Aristóteles ).Artes: a grande contribuição foi no campo da Arquitetura, com construção de palácios e de Mesquitas. Na Pintura, dado a proibição religiosa de reproduzir a figura humana, houve o desenvolvimento dos chamados arabescos.
O IMPÉRIO BIZANTINO
No ano de 395, Teodósio divide o Império Romano em duas partes: o lado ocidental passa a ser designado por Império Romano do Ocidente, com capital em Roma; o lado oriental passa a ser Império Romano do Oriente com capital em Bizâncio ( uma antiga colônia grega). Quando o imperador Constantino transferiu a capital de Roma para a cidade de Bizâncio, ela passou a ser conhecida como Constantinopla.
A ERA DE JUSTINIANO (527/565)
Justiniano foi um dos mais famosos imperadores bizantinos. Seu reinado corresponde ao apogeu do Império Bizantino.
Em seu reinado destacam-se:
O cesaropapismo
Significa que o chefe do Estado ( César ) torna-se o chefe supremo da religião ( Papa ). As constantes interferências do Estado nos assuntos religiosos provocam desgastes entre o Estado e a Igreja resultando, no ano de 1054, uma divisão na cristandade -o chamado GRANDE CISMA DO ORIENTE.
A cristandade ficou dividida em duas igrejas: Igreja Católica do Oriente ( Ortodoxa ) e Igreja Católica do Ocidente, com sede em Roma.
A guerra de Reconquista
Tentativa de Justiniano para reconstituir o antigo Império Romano, procurando reconquistar o Norte da África, a Itália e Espanha que estavam sob o domínio dos chamados povos bárbaros
A Revolta Nika
Para sustentar a Guerra de Reconquista, o governo adotou uma política tributária o que gerou insatisfações e lutas sociais. Justiniano usou da violência para acalmar o Império
Justiniano foi também um grande legislador e responsável pela elaboração do Corpus Juris Civilis ( Corpo do Direito Civil ), que estava assim composto:
O Código
Revisão de todas as leis romanas:
O Digesto: sumário escrito por juristas;As Institutas: manual para estudantes de Direito;As Novelas: conjunto de leis criadas por Justiniano.
Com a morte de Justiniano, o Império Bizantino inicia sua decadência. Entre os séculos VII e VIII os árabes conquistam boa parte do Império Bizantino e em 1453 os turcos ocupam a capital -Constatinopla.
A CULTURA BIZANTINA
O povo bizantino era muito religioso e exerciam os debates teológicos.
Muitas questões teológicas foram discutidas, destacamdose:
O monofisismoTese que negava a dupla natureza de Cristohumana e divina. Segundo o monofisismo, Cristo tinha uma única natureza: a divina.A iconoclastiaMovimento que pregava a destruição de imagens sagradas ( ícones ).
Nas artes, os bizantinos destacaram-se na Arquitetura: construção de fortalezas, palácios, mosteiros e igrejas. A mais exuberante das igrejas foi a Igreja de Santa Sofia, construída no reinado de Justiniano. A característica da arquitetura bizantina era o uso da cúpula.
Os bizantinos também se destacaram na arte do mosaico, utilizados na representação de figuras religiosas, de políticos importantes e na estilização de plantas e animais.
A Baixa Idade Média
I. Origens
O feudalismo europeu é resultado da síntese entre a sociedade romana em decadência e a sociedade bárbara em evolução. Esta síntese resulta nos chamados fatores estruturais para a formação do feudalismo.
Roma contribui para a formação do feudalismo através dos seguintes elementos:
A "villa", ou o latifúndio auto-suficiente; -o desenvolvimento do colonato, segundo o qual o trabalhador ficava preso à terra
A Igreja Cristã, que se tornará na principal instituição medieval. A crise romana reforça seu poder político local e consolida o processo de ruralização da economia.
Os "Bárbaros" contribuem com os seguintes elementos:
Uma economia centrada nas trocas naturaisO comitatus, instituição que estabelecia uma relação de fidelidade e reciprocidade entre os guerreiros e seus chefesAprática do chamado benefício ( beneficium ), dando imunidade ao proprietário desteO direito consuetudinário, isto é, os costumes herdados dos antepassados possuem força de lei.
Além destes elementos estruturais ( internos ), contribuíram também os chamados elementos conjunturais ( externos ) , que foram as Invasões Bárbaras dos séculos VIII ao IX os normandos e os muçulmanos.
Os normandos efetuam um bloqueio do mar Báltico e do mar do Norte e os muçulmanos realizam o bloqueio do mar Mediterrâneo. Estas invasões aceleram o processo de ruralização européia - em curso desde o século III - acentuando a economia agrária e auto-suficiente.
II. Estruturas feudais
ESTRUTURA ECONÔMICA
A economia era basicamente agropastoril, de caráter auto-suficiente e com trocas naturais. O comércio, embora existisse, não foi a atividade predominante.
As terras dos feudos eram divididas em três partes:
Terras coletivas ou campos abertosDe uso comum, onde se recolhiam madeira, frutos e efetuava-se a caça. Neste caso, temos uma posse coletiva da terra.Reserva senhorialDe uso exclusivo do senhor feudal - é era a propriedade privada do senhor.Manso servil ou tenênciaTerras utilizadas pelos servos. Serviam para manter o sustento destes e para cumprimento das obrigações feudais.
O caráter auto-suficiente da economia feudal dava-se em virtude da baixa produtividade agrícola.
O comércio, embora não fosse a atividade predominante, existia sob duas formas: o comércio local -onde realizava-se as trocas naturais; e o comércio a longa distância -responsável pelo abastecimento de determinados produtos, tais como o sal, pimenta, cravo, etc... O comércio a longa distância funcionava com trocas monetárias e, à partir do século XII terá um papel fundamental na economia européia.
ESTRUTURA POLÍTICA
O poder político era descentralizado, ou seja, distribuído entre os grandes proprietários de terra ( os SENHORES FEUDAIS). Apesar da fragmentação do poder político, havia os laços de fidelidade pessoal ( a vassalagem).
Por esta relação estabelecia-se o contrato feudo-vassálico, assim caracterizado:
HomenagemJuramento de fidelidade do vassalo para com o seu suseranoInvestiduraEntrega do feudo do vassalo para o suserano.
O suserano ( aquele que concede o feudo ) deveria auxiliar militarmente seu vassalo e também prestar assistência jurídica.
O vassalo ( aquele que recebe o feudo e promete fidelidade) deve prestar o serviço militar para o suserano e comparecer ao tribunal por ele presidido.
ESTRUTURA SOCIAL
A sociedade feudal era do tipo estamental, onde as funções sociais eram transmitidas de forma hereditária. As relações sociais eram marcadas pelos laços de dependência e de dominação.
Os estamentos sociais eram três:
CLERO
Constituído pelos membros da Igreja Católica.
Dedicavamse ao ofício religioso e apresentavam uma subdivisão:
Alto clero- formado por membros da nobreza feudal (papa, bispo, abade)Baixo clero- composto por membros não ligados à nobreza ( padre, vigário ).
NOBREZA
Formada pelos grandes proprietários de terra e que se dedicavam à atividade militar e administrativa.
TRABALHADORES
Simplesmente a maioria da população. Os camponeses estavam ligados à terra ( servos da gleba ) sendo obrigados a sustentarem os senhores feudais.
Assim, o clero formava o 1º Estado, a nobreza o 2º Estado e os trabalhadores o 3º Estado.
O Sistema feudal também apresentava as chamadas obrigações feudais, uma conjunto de relações sociais onde os servos eram explorados pelos senhores feudais.
As principais obrigações feudais eram:
1) CORVÉIAObrigação do servo de trabalhar nas terras do senhor(manso senhorial). Toda produção de seu trabalho era do proprietário.2) TALHAObrigação do servo de entregar parte de sua produção na gleba para o senhor feudal.3) BANALIDADESPagamento feito pelo servo pelo uso de instrumentos e instalações do feudo ( celeiro, forno, estrada...).
CRISE DO FEUDALISMO
A crise do Sistema Feudal tem sua origem no século XI e está relacionada ao crescimento populacional. Este, por sua vez, está relacionado a um conjunto de inovações técnicas, tais como o uso da charrua ( máquina de revolver a terra ), o peitoril ( para melhor aproveitamento da força do cavalo no arado ), uso de ferraduras e o moinho d'água.
A estas inovações técnicas, observa-se uma expansão da agricultura, com a ampliação de áreas para o cultivo ( conquista dos bosques, pântanos...).
Sabendo-se que a produtividade agrícola era baixa- mesmo com as inovações acima- o crescimento populacional acarreta uma série de problemas sociais: o banditismo, aumento da miséria, guerras internas por mais terras... As Cruzadas foram, neste contexto, uma tentativa para solucionar tais problemas.
AS CRUZADAS
Foram convocadas pelo papa Urbano II, em 1095, com o objetivo oficial de libertar a Terra Santa ( Jerusalém ) do domínio muçulmano.
No entanto, outros fatores contribuíram para a organização das Cruzadas: canalizar o espírito guerreiro dos nobres para o oriente; o ideal de peregrinação cristã; o interesse econômico em algumas regiões do oriente e a necessidade de exportar a miséria-em virtude do crescimento populacional.
As principais conseqüências das Cruzadas foram:
Reabertura do mar Mediterrâneo e o desenvolvimento do intercâmbio comercial entre o Ocidente e o OrienteFortalecimento do poder real, em virtude do empobrecimento Dos senhores feudaisO renascimento urbano.
Renascimento Comercial
As Rotas
O comércio de produtos na Europa desenvolve-se em dois centros:
No Norte da Europa, onde a Liga Hanseática -união de cidades alemãs- através dos mares do Norte e Báltico, monopolizava o comércio de peles, madeiras, peixes secos, etc...
Na Itália, onde cidades como Veneza e Gênova, monopolizavam o comércio de produtos vindos do Oriente, como a seda, cravo, canela, etc...
Estes centros comerciais eram interligados por rotas terrestres, sendo que a mais importante era a de Champagne.
As feiras
Contribuíram para a dinamização do comércio e das trocas monetárias. Desenvolveram-se no encontro de rotas comerciais ( os nós de trânsito ). A principal feira ocorria na cidade de Champagne, na França.
Renascimento Urbano
O intenso desenvolvimento comercial colaborou para o desenvolvimento das cidades medievais e de uma nova classe social, a burguesia.
A burguesia inicia uma luta pela emancipação das cidades dos domínios do senhor feudal ( movimento comunal ).
No interior das cidades ( Burgos ), a produção urbana estava organizada nas chamadas Corporações de Ofício. ( Guildas na Itália ). O principal objetivo destas organizações era regulamentar a produção, defendendo o justo preço e praticando o monopólio./
O interior da Corporação de Ofício apresentava uma divisão hierárquica, a saber: o mestre, o aprendiz e o jornaleiro - pessoa que recebia por uma jornada de trabalho.
FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS
A formação das Monarquias Nacionais está associada à aliança entre a burguesia comercial e o rei, efetivada no final da Baixa Idade Média.
O interesse da burguesia nesta aliança era econômico, pois o senhor feudal era um obstáculo para o desenvolvimento de suas atividades: impostos excessivos, pesos e medidas não padronizados e ausência de unificação monetária.
Já o rei, que buscava centralizar o poder político, a classe de senhores feudais representava seu principal obstáculo ( lembre-se que o poder político feudal era fragmentado ). Para fazer valer sua autoridade era necessário a criação de um exército, formado por mercenários.
Assim, a burguesia comercial passa a financiar a montagem deste exército. O rei passa a superar o senhor feudal e a impor sua vontade.
A centralização do poder político implica na unificação econômica: padronização de pesos, medidas e monetária -incentivando as trocas comerciais.
A Monarquia passa a criar as Companhias de Comércio, onde o monopólio da atividade comercial ficará a cargo da burguesia.
Monarquia Nacional
Caso francês.
DINASTIA DOS CAPETOS
Substituição das obrigações feudais por tributos pagos à Coroa, criação de um Exército Nacional.
Durante a Guerra dos Cem Anos ( 1337/1453 ), a nobreza feudal se enfraquece, colaborando para o fortalecimento do poder real.
Filipe Augusto (1180/1223 )
Iniciou a luta contra o domínio inglês
Luís IX ( 1226/1270)
Organização da justiça real
Filipe IV, o Belo ( 1285/1314 ) - entrou em choque com o Papado, episódio conhecido como o Grande Cisma, quando transferiu a sede do Papado para Avignon.
A CRISE DO SÉCULO XIV
O final da Idade Média é marcado por uma séria crise social, econômica e política - a denominada tríada: a Guerra dos Cem Anos, a Peste Negra e a fome, responsáveis pelas revoltas camponesas.
CRISE SÓCIO-ECONÔMICA
Como vimos, a partir do século XI, houve uma expansão da agricultura. Ocorre que as terras de boa qualidade ficam cada vez mais raras, acarretando uma diminuição na produtividade. Soma-se a isto, uma série de transformações climáticas na Europa, responsáveis pela perda de colheitas e gerando uma escassez de alimentos e períodos de fome (1315 a 1317, 1362, 1374 a 1438 ).
Enfraquecida pela fome, a população européia fica vulnerável às epidemias, como no caso da Peste Negra, trazida do Oriente. Calcula-se que um terço da população européia desapareceu.
A epidemia, aliada às sucessivas crises agrícolas, provoca uma enorme escassez de mão-de-obra, levando os servos a fazerem exigências por melhores condições de vida. Muitos servos conseguiam comprar a sua liberdade. Em algumas regiões, no entanto, às exigências dos servos foram seguidas pelo aumento dos laços de dependência, acarretando as revoltas camponesas.
Tanto em um caso - abertura do sistema, quando o servo adquire a sua liberdade; como no outro -fechamento do sistema, quando os laços de dependência são ampliados - o resultado será o agravamento da crise feudal e o início de um novo conjunto de relações sociais.
CRISE POLÍTICA
O período medieval foi marcado pelos conflitos militares, dada a agressividade da nobreza feudal. Entre estes conflitos, A Guerra do Cem Anos ( 1337/1453 ) merece destaque.
A Guerra dos Cem Anos ocorreu entre o reino da França e o reino da Inglaterra, motivada por motivos políticos -a sucessão do trono francês entre Filipe de Valois e Eduardo III, rei da Inglaterra; e motivos econômicos -a disputa pela região da Flandres, importante área produtora de manufaturas.
Ao longo do combate, franceses e ingleses obtiveram vitórias significativas. Entre seus principais personagens, destaque para a figura de Joana d'Arc, que no ano de 1431 foi condenada à fogueira. Após a sua morte os franceses expulsaram os ingleses, vencendo a guerra.
Esta longa guerra prejudicou a economia dos dois reinos e contribuiu para o empobrecimento da nobreza feudal e, consequentemente, o seu enfraquecimento político. Ao mesmo tempo que a nobreza perdia poder, a autoridade do rei ficava fortalecida, beneficiando o processo de construção das Monarquias Nacionais.
A IGREJA MEDIEVAL
A principal instituição medieval será a Igreja Católica.
Esta exercia um papel decisivo em todos os setores da vida medieval: na organização econômica, na coesão social, na legitimação da dominação política e nas manifestações culturais.
O clero estava organizado em clero secular ( que vivia no mundo cotidiano em contato com os fiéis ) e o clero regular ( que vivia nos mosteiros, isolando do mundo ) que obedecia regras. Trata-se dos beneditinos, franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.
O topo da hierarquia eclesiática era ( e ainda é ) ocupada pelo papa. Este exercia dois tipos de poderes, o espiritual ( autoridade religiosa máxima) e o poder temporal ( poder político decorrente das grandes extensões de terra que a Igreja possuía ). O exercício do poder temporal levou a Igreja a envolver-se em questões políticas, como a célebre Querela das Investiduras.
Movimentos reformistas
A interferência da Igreja em assuntos políticos, a corrupção eclesiástica, o desregramento moral do clero e a venda de bens eclesiásticos levaram a Igreja a afastar-se de seu ideal religioso.
No século XI surgiu um movimento reformista que buscava recuperar a autoridade moral da Igreja, originado a Ordem de Cluny, que tinha por objetivo seguir as regras da Ordem Beneditina ( castidade, pobreza, caridade, obediência, oração e trabalho ). O papa Gregório VII, que se envolveu na Querela das Investiduras, havia sido um monge desta ordem.
Outras ordens religiosas surgiram, as chamadas Ordens mendicantes, como a dos cartuxos e dos cistercienses. Pregando a pobreza absoluta e vivendo da caridade, surge a Ordem dos Franciscanos e dos Dominicanos.
INQUISIÇÃO
A perda da autoridade moral da Igreja Católica propiciou o desenvolvimento de uma série de doutrinas, crenças e superstições denominadas heresias, que contrariavam os dogmas da Igreja.
Para combater os movimentos heréticos, o papa Gregório IX criou, em 1231, os Tribunais de Inquisição, com a missão de julgar os considerados hereges. Os condenados eram entregues às autoridades administrativas do Estado, que executavam a sentença.
A Inquisição desempenhava um importante papel político, freando os movimentos contrários aos interesses das classes dominantes.
CULTURA MEDIEVAL
Referir-se à Idade Média como a "Idade das Trevas" é um grave erro. Tal concepção representa uma visão distorcida do período medieval. Este preconceito com a Idade Média originou-se no século XVIII com o Iluminismo - fortemente anticlerical.
No entanto, o período medieval foi riquíssimo em atividade cultural.
EDUCAÇÃO
Controlada pelo clero católico, que dominava as escolas dos mosteiros, escolas paroquiais e as universidades.
O surgimento e expansão das universidades estão relacionadas com o desenvolvimento das cidades, bem como o surgimento de uma nova classe social: a burguesia comercial.
Os ramos de conhecimento estudados nas universidades medievais eram: Teologia e Filosofia, Letras, Ciências, Direito e Medicina. O ensino era ministrado em latim.
ARTES
a) Literatura
Enaltecer a figura do cavaleiro cristão e suas qualidades: lutar pelo bem público, combater as heresias e defender os pobres, viúvas e órfãos.
Na poesia épica exalta-se os torneios, as aventuras e a defesa do cristianismo, tais como a canção de Rolando (século XI ) e El Cid( século XII).
Na poesia lírica, predomina o tema do amor espiritualizado e idealizado do cavaleiro pela sua amada.
No século XIII, o grande destaque da literatura foi Dante Alighieri, autor da Divina Comédia.
b) Pintura
Possuía uma função didática, pois estava associada à divulgação de temas religiosos. Entre os principais pintores medievais, destacam-se Cimabue e Giotto.
c) Escultura
Função decorativa e de divulgação dos valores religiosos.
d) Arquitetura
Desenvolvimento de dois estilos: o românico e o gótico.
Românico: (séculos XI/XII)
Aarcos em abóbadas redondos, sustentados por paredes maciças. A catedral de Notre-Dame la Grande em Poitiers é um exemplo deste estilo.
Gótico: ( séculos XII/XVI )
Uso do arco em ponta ou ogival, permitindo a construção de abóbadas bastante amplas. Existência de muitas janelas para melhor iluminação do interior, muito mais amplo que o estilo românico. O gótico está relacionado com o crescimento populacional e o desenvolvimento urbano.
A catedral de Notre-Dame, em Paris, é um exemplo deste estilo.
e) musica
Divulgava os valores cristãos. Destaque para Gregório Magno ( 590/604 ) que implantou o canto gregoriano. Na música popular, destaque para as canções trovadorescas, cujos temas eram os ideais cristãos.
CIÊNCIAS E FILOSOFIA
A principal corrente filosófica do período foi a Escolástica, que tinha por objetivo conciliar a razão com a fé. Seus principais representantes foram Alberto Magno ( 1193/1280 ) e Tomás de Aquino ( 1225/ 1274). Este último reconstruiu parte das teorias de Aristóteles, dentro de uma visão cristã, na sua obra Summa Theológica.
No setor científico, Roger Bacon (1214/1294) defensor da observação e da experimentação como norma científica.
Fonte: www.mundovestibular.com.br
Idade Média
IDADE MÉDIA: FILHA DOS ANTIGOS, BERÇO DA MODERNIDADE
“Somos anões empoleirados nos ombros de gigantes. Assim, vemos melhor e mais longe do que eles, não porque nossa vista seja mais aguda ou nossa estatura mais alta, mas porque eles nos elevam até o nível de toda a sua gigantesca altura...” Bernardo de Chartres
O conceito de Idade Média como “Idade das Trevas”, em oposição ao Renascimento e à Antigüidade, foi forjado sobretudo no século XIX pelos historiadores liberais, segundo o qual a Idade Média teria interrompido o progresso do conhecimento e da cultura do homem, que seriam retomados mais tarde no século XVI.[1] Felizmente, este conceito vem sendo desmistificado por diversos estudiosos. Seguindo a teoria de Toynbee[2], os movimentos culturais podem estar ligados por uma relação de gerações, de tal modo que uma cultura seja filha da outra. Esta é relação existente entre a Antigüidade, a Idade Média e a Cultura Ocidental Moderna. A idéia de Idade Média como uma época que esqueceu os antigos não se fundamenta e, na verdade, temos a Idade Média como filha da Antigüidade e berço do Renascimento e, enfim, do nosso mundo ocidental.
Portanto não é possível estudar a Idade Média se nos limitarmos a (pre)conceitos criados a posteriori, pois nela encontramos elementos cuja história e significado só se encontram em períodos mais antigos.[3]
O medievo bebe na fonte dos antigos mas, não se contentando com o paladar, altera-lhe o sabor a seu gosto. Estamos falando de uma nova utilização dos antigos (entendidos como toda a cultura antiga, não somente a clássica), que alguns chamariam supostamente de imitação servil, mas que, aos olhos do homem da época é algo completamente novo, moderno.
Portanto não é possível estudar a Idade Média se nos limitarmos a (pre)conceitos criados a posteriori, pois nela encontramos elementos cuja história e significado só se encontram em períodos mais antigos.[3]
O medievo bebe na fonte dos antigos mas, não se contentando com o paladar, altera-lhe o sabor a seu gosto. Estamos falando de uma nova utilização dos antigos (entendidos como toda a cultura antiga, não somente a clássica), que alguns chamariam supostamente de imitação servil, mas que, aos olhos do homem da época é algo completamente novo, moderno.
A partir do legado da tardia Antigüidade latina, a Idade Média adotou e transformou seus elementos, construindo uma imagem própria dos antigos: “a Antigüidade está presente na Idade Média como recepção e transmutação”.[4]
Os medievos procuraram traduzir, estudar e entender os antigos, pois, para refutar suas doutrinas foi preciso conhecê-las.
Os medievos procuraram traduzir, estudar e entender os antigos, pois, para refutar suas doutrinas foi preciso conhecê-las.
Eles acreditavam que a filosofia antiga (sobretudo Aristóteles e Platão) tinha de ser reutilizada, à luz de uma nova interpretação cristã, como nos diz neste trecho o inglês Daniel de Morley, reportando-se ao bispo de Norwich:
“Que ninguém se aflija se, tratando da criação do mundo eu invocar o testemunho não dos Padres da Igreja, mas de filósofos pagãos, pois, ainda que estes não figurem entre os fiéis, algumas de suas palavras, a partir do momento que estejam cheias de fé, devem ser incorporadas ao nosso ensino.” [5]
Vejamos a reinterpretação que Santo Agostinho, um dos expoentes da Idade Média, faz de Platão e Aristóteles, ilustrando com o capítulo 8 do livro VI das Confissões[6]. Nele, Alípio – ex-aluno e futuro amigo de Agostinho – recusa-se a assistir às lutas de gladiadores, mas acaba sendo levado “amigavelmente” à força pelos amigos.
Para se proteger contra a massificação e a catarse daquele espetáculo sangrento e cruel, o jovem Alípio conta com seu esclarecimento sobre o que é o bem e o mal, pois o homem instruído e consciente seria capaz de se proteger contra tais males:“Por arrastardes a esse lugar e lá colocardes o meu corpo, julgais que podereis fazer com que o espírito e os olhos prestem atenção aos espetáculos? Assistirei como ausente, saindo assim triunfante de vós e mais dos espetáculos”[7].
Ledo engano: o homem esclarecido, consciente de si mesmo se entrega tanto mais facilmente e com tanto mais ardor àquela massificação. Vamos nos apoiar na brilhante análise que Erich Auerbach[8] faz desse texto para mostrar como a Antigüidade é reutilizada pelo pensador cristão.
A autoconsciência individualista e orgulhosa é derrubada: “não se trata de um Alípio qualquer, mas de toda a cultura racional e individualista da Antigüidade clássica: Platão e Aristóteles, os estóicos e os epicuristas”[9].
A derrocada é tanto maior quanto maior a suposta consciência: o homem consciente se converte em massa e vai além, conduz a massa.
Essa mudança radical, como aponta também Auerbach, é cristã, sendo a derrota a primeira etapa da redenção em Deus: “O Cristianismo dispõe, na sua luta contra a embriaguez mágica, de outras armas que não as da elevada cultura racional e individualista da Antigüidade”[10]. Se por um lado, Agostinho reutiliza os antigos, seu estilo de texto é “totalmente anticlássico”, tanto no tom humanamente dramático como na forma, que lembra passagens bíblicas; Agostinho se utiliza dos clássicos, mas não se deixa dominar por ele, como aponta Auerbach.
Dante é outro “produto” da Antigüidade, e bebe dessa fonte para construir o maior painel da época medieval, sua Divina Comédia. Na viagem de Dante ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso – conduzido pelo altíssimo poeta Virgílio, a mentalidade, a cultura, a sociedade, o amor são questionados em conversas travadas com inúmeros personagens. A Divina Comédia também é uma censura à época, escrita, segundo o poeta, em “linguagem vulgar que as mulheres utilizavam em suas conversações diárias”[11].
Dante é outro “produto” da Antigüidade, e bebe dessa fonte para construir o maior painel da época medieval, sua Divina Comédia. Na viagem de Dante ao Inferno, ao Purgatório e ao Paraíso – conduzido pelo altíssimo poeta Virgílio, a mentalidade, a cultura, a sociedade, o amor são questionados em conversas travadas com inúmeros personagens. A Divina Comédia também é uma censura à época, escrita, segundo o poeta, em “linguagem vulgar que as mulheres utilizavam em suas conversações diárias”[11].
No canto IV do Inferno, Dante e Virgílio se encontram com os antigos: Homero, Horácio, Ovídio, Lucano e depois Estácio. Esse encontro representa a aceitação de Dante no círculo dos poetas antigos (a bella scuola) e a sanção de sua missão poética.[12]
Assim, só podemos compreender Dante, se estudarmos Virgílio e, antes deste, Homero:
“O encontro de Dante com a bella scuola autoriza a incorporação da épica latina na poesia universal cristã. Compreende um lugar ideal, onde ficou reservado um nicho para Homero, e onde se acham reunidas todas as grandes figuras do Ocidente (...) Nele deita raízes a Divina Comédia. É a velha estrada da Antigüidade que conduz ao Mundo Moderno.”[13]
Ecoam também em Giovani Bocaccio, autor do Decameron, os reflexos dos antigos. Na medida em que ambos rompem com uma estrutura rígida coercitiva, Eurípides e Bocaccio são precursores da nossa modernidade. Aquele desmistificando o esquema coercitivo-aristocrático das tragédias, colocando o povo como personagem principal e celebrando o indivíduo. Bocaccio, grande admirador e seguidor de Dante, popularizando a literatura e escandalizando com suas novelas, escritas em língua vulgar, em que jovens fogem da peste e se refugiam nos montes, visualizando novos horizontes (fuga do passado, rumo a uma nova era); temos, então, uma transfiguração do espírito revolucionário de Eurípides. Além disso, ambos são precursores do romance burguês moderno.
Podemos citar inúmeros outros exemplos, mas limitemo-nos a expor mais dois: o primeiro intelectual, tal como concebemos, nasceu na Idade Média: Abelardo, cristão nutrido na filosofia antiga que reclama a aliança entre a razão e a fé, o primeiro professor, para usar as expressões de Le Goff[14]; e as Universidades, centro da nossa intelligentsia e instituição de pesquisa por excelência, foram criadas nessa época.
Há que se negar as oposições Medievalidade-Antigüidade e Medievalidade-Modernidade pois não se pode ser moderno se não se estuda os antigos. Isso vale tanto para a Idade Média em relação à Antigüidade como para o nosso mundo com relação à Idade Média. É a partir do legado da Idade Média que os clássicos chegam aos renascentistas e, depois, até nós. Dizemos que nosso mundo atual é fruto do pensamento clássico greco-romano.
Podemos citar inúmeros outros exemplos, mas limitemo-nos a expor mais dois: o primeiro intelectual, tal como concebemos, nasceu na Idade Média: Abelardo, cristão nutrido na filosofia antiga que reclama a aliança entre a razão e a fé, o primeiro professor, para usar as expressões de Le Goff[14]; e as Universidades, centro da nossa intelligentsia e instituição de pesquisa por excelência, foram criadas nessa época.
Há que se negar as oposições Medievalidade-Antigüidade e Medievalidade-Modernidade pois não se pode ser moderno se não se estuda os antigos. Isso vale tanto para a Idade Média em relação à Antigüidade como para o nosso mundo com relação à Idade Média. É a partir do legado da Idade Média que os clássicos chegam aos renascentistas e, depois, até nós. Dizemos que nosso mundo atual é fruto do pensamento clássico greco-romano.
Na verdade, não nos damos conta que somos filhos do pensamento medieval, no qual os conceitos clássicos passaram pelo filtro da doutrina cristã:
“falamos idiomas surgidos naquela época, temos ou pretendemos ter governos representativos, consideramos indispensáveis instituições como julgamento por júri e habeas corpus, alcançamos maior eficiência com o sistema bancário, a contabilidade e o relógio mecânico, cuidamos do corpo com hospitais e óculos, alimentamos melhor o espírito graças à notação musical, à imprensa e às universidades, embelezamos a vida com a música polifônica e os romances”.[15]
Temos de tentar compreender a Idade Média, então, a partir dos olhos de uma pessoa daquela época, isto é, sem preconceitos, reconhecendo sua modernidade e seu rico legado cultural. Conhecer a Idade Média, matriz da civilização ocidental cristã, enfim, é compreender melhor o nosso século.
Della Paschoa Rodrigues
Referências Bibliográficas
AUERBACH, Erich. Mimesis – A Representação da Realidade na Literatura Ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1998.
CURTIUS, Ernst R. Literatura Europea y Edad Media Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1995.
FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média – Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1996.
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
LE GOFF, JACQUES. Os Intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1995.
LOYN, Henry R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999, Coleção Os Pensadores.
CURTIUS, Ernst R. Literatura Europea y Edad Media Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1995.
FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média – Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1996.
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LE GOFF, JACQUES. Os Intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1995.
LOYN, Henry R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999, Coleção Os Pensadores.
[1] Cf. OLIVEIRA, Franklin. “Breve Panorama Medieval” in LOYN, Henry R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1992, p. V.
[2] Cf. CURTIUS, Ernst R. Literatura Europea y Edad Media Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1995, p. 21
[3] Ibidem, p. 30.
[4] Ibidem, p. 39.
[5] Apud LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 29.
[6] Santo Agostinho. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
[7] Ibidem, p.157.
[8] AUERBACH, Erich. Mimesis – A Representação da Realidade na Literatura Ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1998, pp. 56-61.
[9] Ibidem, p. 59.
[10] Ibidem, Loc. cit.
[11] Apud FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média – Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 140.
[12] Cf. CURTIUS, Ernst R. Op. cit. p. 37.
[13] Ibidem, p. 38.
[14] LE GOFF, Jacques. Op. cit. pp. 39 ss.
[15] FRANCO Jr., Hilário. Op. cit. p. 179.
[2] Cf. CURTIUS, Ernst R. Literatura Europea y Edad Media Latina. México: Fondo de Cultura Económica, 1995, p. 21
[3] Ibidem, p. 30.
[4] Ibidem, p. 39.
[5] Apud LE GOFF, Jacques. Os Intelectuais na Idade Média. São Paulo: Brasiliense, 1995, p. 29.
[6] Santo Agostinho. Confissões. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
[7] Ibidem, p.157.
[8] AUERBACH, Erich. Mimesis – A Representação da Realidade na Literatura Ocidental. São Paulo: Perspectiva, 1998, pp. 56-61.
[9] Ibidem, p. 59.
[10] Ibidem, Loc. cit.
[11] Apud FRANCO Jr., Hilário. A Idade Média – Nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1996, p. 140.
[12] Cf. CURTIUS, Ernst R. Op. cit. p. 37.
[13] Ibidem, p. 38.
[14] LE GOFF, Jacques. Op. cit. pp. 39 ss.
[15] FRANCO Jr., Hilário. Op. cit. p. 179.
Fonte: www.unicamp.br
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