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sexta-feira, 16 de março de 2012

OS HUNOS

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quinta-feira, 15 de março de 2012

Diccionario_aristocratico


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Caixinha da escravidão


Boa parte da elite brasileira era formada por traficantes de escravos. Seus recursos e apoio político ajudaram a sustentar a Corte de D. João.

Rodrigo de Aguiar Amaral
7/1/2008
  • Da noite para o dia, o Rio de Janeiro foi elevado à condição de capital do império português. Mas à época já era um dos principais portos de uma rede comercial que conectava várias partes do mundo. A mercadoria que sustentava essa rede internacional eram os escravos.
    Com a chegada da Corte da Corte, o negócio só fez crescer. Durante os treze anos da permanência de D. João no Brasil (1808-1821), cerca de 250 mil escravos desembarcaram no Rio de Janeiro. Para se ter uma idéia do que isto significa, os Estados Unidos importaram da África, nos 250 anos de sua história escravista, perto de 400 mil escravos.
    Não é exagero afirmar que as principais riquezas movimentadas na sociedade brasileira dependiam das relações escravistas. Na cidade, a venda de utensílios de todo tipo, frutas e alimentos cozidos (as “quitandas”), além dos serviços, era feita por pequenos comerciantes varejistas. Neste comércio local, uma figura merece destaque: os escravos “de ganho”. Eles pagavam uma diária (chamada “jornal”) aos seus donos e ofereciam ofícios à crescente população urbana. O que o escravo “de ganho” lucrasse a mais, ficava para ele. O comércio entre as capitanias ficava a cargo de negociantes com maior volume de capital, por via marítima ou terrestre – neste caso, utilizando-se dos tropeiros. Montados em mulas, estes homens traziam farinhas, grãos, couro, carne e diversos outros produtos para o Rio de Janeiro, principalmente de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. E o comércio de longa distância, que ligava a cidade fluminense ao resto do mundo, cabia aos grandes negociantes. Tecidos da Índia, vinho, bacalhau e azeite europeus, prata e ouro sul-americanos e escravos africanos entravam e saíam no porto carioca diariamente.
    Todas estas modalidades de comércio tinham como elementos mais importantes os escravos, seja como agentes, seja como mercadoria. Eram eles que batiam de porta em porta vendendo alimentos. Era em troca deles que mineiros, paulistas e sulistas plantavam alimentos ou criavam gado para vender no Rio. Era atrás deles que os grandes negociantes atravessavam o oceano rumo à Costa da Mina, Congo ou Moçambique. Os panos da Índia comprados na Ásia não vestiam apenas as cortesãs européias: eram muito apreciados na África. A prata da América espanhola e o ouro mineiro serviam para comprar estes panos, que posteriormente eram trocados por cativos no continente africano.
    Os três tipos de comércio (local, regional e de longa distância) precisavam de investimentos distintos de capital. É nessa hora que surge a figura do grande negociante, presente em todas as transações. No topo deste grupo, figuravam os traficantes de escravos. O termo traficante não tinha o sentido de ilegalidade dos dias atuais — significava, no período colonial, negociante. No Rio de Janeiro estavam os maiores traficantes de escravos das Américas.
    Sua prosperidade ganhou impulso com a descoberta de ouro em Minas Gerais na década de 1690, que gerou uma grande demanda de recursos e mercadorias diversas – dos escravos às ferramentas. A partir da segunda metade do século XVIII, estes negociantes, estabelecidos nas proximidades do porto do Rio de Janeiro, dominaram o crédito, as instituições seguradoras, o tráfico de escravos, a importação e a exportação dos produtos. Eram os donos dos maiores navios, os responsáveis pela maior quantidade de viagens, e em 1790 constituíam a principal elite econômica do Brasil. Financiavam até mesmo a elite rural, através de empréstimos para a compra de escravos e manutenção dos caros engenhos.
    A carreira de um traficante podia ter vários pontos de partida. Normalmente, antes de se tornar um grande mercador, ele passava por ramos menores de comércio e aprendia que especulações e flutuações de preços, fenômenos naturais como calmarias e tempestades, interferiam nos lucros. Portanto, estaria sempre preocupado com prazos e não se concentraria em uma única atividade comercial.
    Isso explica por que os comerciantes de escravos eram responsáveis por grande quantidade de empregos diretos e indiretos, nos quatro continentes: na Europa, maquinários de última geração eram comprados para seus navios; na Ásia, famílias inteiras trabalhavam na produção e transporte dos tecidos que comercializavam; na África, chefes tribais e suas cortes adquiriam prestígio com os panos da Índia e diversos outros produtos. As sociedades africanas acabaram reorientando suas economias para encher de escravos os navios negreiros, e com isso intensificaram-se bens e serviços específicos para atender às demandas daquele comércio, como a venda de alimentos e bebidas, o funcionamento de presídios (praças-fortes portuguesas) e a manutenção de embarcações.
    Da mesma forma, o capital movimentado por esses homens no Rio de Janeiro era imenso. Deles dependia uma vasta cadeia de profissionais: pilotos para navegação; médicos e cirurgiões para cuidar dos escravos enfermos e enfraquecidos por semanas trancafiados nos “tumbeiros” (como também chamavam os navios negreiros); ferreiros, marceneiros e carpinteiros para cuidar dos maquinários, móveis e ferramentas de seus navios e escritórios; “línguas” (intérpretes) para facilitar a comunicação com cidadãos e escravos oriundos de terras distantes; caixeiros e advogados para ajudar nas questões contábeis e jurídicas; tanoeiros para fazer tonéis que guardavam comida e água da tripulação e dos prisioneiros (uma lei portuguesa de 1684 obrigava que se servisse 1,4 litro d’água e comida três vezes ao dia para cada escravo durante a travessia da África à América); marinheiros e soldados para a segurança e serviços que o navio exigia.
    Como se pode imaginar, as relações dos traficantes não se restringiam aos escravos e à gente comum. Quando D. João chegou ao Rio de Janeiro, encontrou esta elite de negociantes já credora das principais famílias da terra. Na cidade que se tornara residência real, boa parte das lojas, armazéns, casas térreas, sobrados e prédios urbanos pertenciam a eles. Isso sem contar os terrenos, sítios e fazendas que faziam parte do seu diversificado rol de investimentos. Num destes terrenos, em São Cristóvão, o traficante Elias Antônio construiu respeitável residência. O local era imenso e, para os padrões brasileiros, suntuoso.
    O Palácio da Boa Vista (depois Paço de São Cristóvão e atual sede do Museu Nacional), foi oferecido pelo comerciante a D. João. Seria uma residência bem mais apropriada ao monarca, que até então morava na sede do vice-reino do Brasil, atual Paço Imperial, na Praça XV. O príncipe-regente aceitou o mimo de bom grado. Um pouco afastado da corte, o palácio atendia a diversas funções de trabalho e lazer da casa real, recebendo transformações ao longo dos reinados de D. João, D. Pedro I e D. Pedro II.
    A doação do palácio a D. João demonstra a ligação da corte com a nata de comerciantes da cidade. Com negócios no Oriente, África e diversas regiões do Brasil, Elias Antônio Lopes estava entre os mais importantes mercadores do Rio de Janeiro. E esta não havia sido sua primeira doação à família real. Logo após o desembarque da comitiva lusitana, em 7 de março de 1808, d. João passou diversas listas de “subscrições voluntárias” para remediar as necessidades financeiras da corte. A primeira lista traz o nome de Lopes e de vários outros traficantes de escravos, como José Ignácio Vaz Vieira. Ambos, apesar de praticarem atividades nada enobrecedoras para o perfil aristocrático (que desprezava a atividade comercial), souberam se articular com a família real, a ponto de receberem o cobiçado hábito da Ordem de Cristo. Elias Antônio Lopes, que faleceu em 1815, viveu apenas sete anos ao lado de sua majestade, tempo suficiente para freqüentar a vida palaciana e receber favores reais como a nomeação de Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e o título do Conselho de Sua Majestade.
    Tais comerciantes alimentaram a sociedade brasileira com escravos até 1850, quando o Império proibiu o tráfico negreiro. Mas durante décadas, desde a chegada da corte, eles alcançaram um novo status social, quando o governo português instalado no Brasil lançou mão, para o seu sustento, das fortunas destes negociantes, construídas através do tráfico de almas.
    Rodrigo de Aguiar Amaral é doutorando em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor na Pós-Graduação em História da África e do Brasil das Faculdades Integradas Simonsen e autor da dissertação Nos Limites da Escravidão urbana: A vida dos pequenos senhores de escravos na Urbes do Rio de Janeiro, c.1800-c.1860 (UFRJ, 2006).
    Saiba mais:
    CAVALCANTI, Nireu Oliveira. “O comércio de escravos no Rio setecentista”, in FLORENTINO, Manolo. (org.) Tráfico, Cativeiro e Liberdade. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2005.
    FLORENTINO, Manolo. Em costas Negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro: séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
    FRAGOSO, João Luís Ribeiro. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992.
    MALERBA, Jurandir. A Corte no exílio. Civilização e poder no Brasil as vésperas da independência (1808-1821). São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

    Fonte: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/caixinha-da-escravidao

terça-feira, 13 de março de 2012

Hobbes e o pensamento político

Thomas Hobbes
Thomas Hobbes


Hobbes quis fundar a sua filosofia política sobre uma construção racional da sociedade, que permitisse explicar o poder absoluto dos soberanos. Mas as suas teses, publicadas ao longo dos anos, e apresentadas na sua forma definitiva no Leviatã, de 1651, não foram bem aceites, nem por aqueles que, com Jaime I, o primeiro rei Stuart de Inglaterra, defendiam que «o que diz respeito ao mistério do poder real não devia ser debatido», nem pelo clero anglicano, que já em 1606 tinha condenado aqueles que defendiam «que os homens erravam pelas florestas e nos campos até que a experiência lhes ensinou a necessidade do governo.»
A justificação de Hobbes para o poder absoluto é estritamente racional e friamente utilitária, completamente livre de qualquer tipo de religiosidade e sentimentalismo, negando implicitamente a origem divina do poder.
O que Hobbes admite é a existência do pacto social. Esta é a sua originalidade e novidade.
Hobbes não se contentou em rejeitar o direito divino do soberanos, fez tábua rasa de todo o edifício moral e político da Idade Média. A soberania era em Hobbes a projecção no plano político de um individualismo filosófico ligado ao nominalismo, que conferia um valor absoluto à vontade individual. A conclusão das deduções rigorosas do  pensador inglês era o gigante Leviatã, dominando sem concorrência a infinidade de indivíduos, de que tinha feito parte inicialmente, e que tinham substituído as suas vontades individuais à dele, para que, pagando o preço da sua dominação, obtivessem uma protecção eficaz. Indivíduos que estavam completamente entregues a si mesmos nas suas actividades normais do dia-a-dia.
Infinidade de indivíduos, porque não se encontra em Hobbes qualquer referência nem à célula famíliar, nem à família alargada, nem tão-pouco aos corpos intermédios existentes entre o estado e o indivíduo, velhos resquícios da Idade Média. Hobbes refere-se a estas corporações no Leviatã, mas para as criticar considerando-as «pequenas repúblicas nos intestinos de uma maior, como vermes nas entranhas de um homem natural». Os conceitos de «densidade social» e de «interioridade» da vida religiosa ou espiritual, as noções de sociabilidade natural do homem, do seu instinto comunitário e solidário, da sua necessidade de participação, são completamente estranhos a Hobbes.
É aqui que Hobbes se aproxima de Maquiavel e do seu empirismo radical, ao partir de um método de pensar rigorosamente dedutivo. A humanidade no estado puro ou natural era uma selva. A humanidade no estado social, constituído por sociedades civis ou políticas distintas, por estados soberanos, não tinha que recear um regresso à selva no relacionamento entre indivíduos, a partir do momento em que os benefícios consentidos do poder absoluto, em princípio ilimitado, permitiam ao homem deixar de ser um lobo para os outros homens. Aperfeiçoando a tese de Maquiavel, Hobbes defende que o poder não é um simples fenómeno de força, mas uma força institucionalizada canalizada para o direito (positivo), - «a razão em acto» de R. Polin - construindo assim a primeira teoria moderna do Estado.
Deste Estado, sua criação, os indivíduos não esperam a felicidade mas a Paz, condição necessária à prossecução da felicidade. Paz que está subordinada a um aumento considerável da autoridade - a do Soberano, a da lei que emana dele.
Mas, mesmo parecendo insaciável, esta invenção humana com o nome de um monstro bíblico, não reclama o homem todo. De facto, em vários aspectos o absolutismo político de Hobbes aparece como uma espécie de liberalismo moral. Hobbes mostra-se favorável ao desenvolvimento, sob a autoridade ameaçadora da lei positiva, das iniciativas individuais guiadas unicamente por um interesse individual bem calculado, e por um instinto racional aquisitivo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Jean-Baptiste Colbert

(1619 - 1683)


  Financista francês de grande talento e capacidade criadora nascido em Reims, França, responsável pelo extraordinário desenvolvimento da economia francesa, primeiro servindo ao cardeal Mazarin e mais tarde ao rei Luís XIV. Era filho e neto de grandes mercadores e antes de completar 20 anos já trabalhava no ministério da guerra e logo se tornou o secretário particular do ministro de guerra francês. Um motim político levou Mazarin para Paris (1651), e ele ficou na cidade e mantendo o cardeal informado sobre os acontecimentos. Quando o cardeal voltou ao poder (1653), foi nomeado controlador geral de finanças e responsável sobre todas as propriedades da Igreja francesa. Ele começou reformando o caótico sistema financeiro da França, assumindo o tesouro e restaurando o equilíbrio entre despesas governamentais e as receitas. Desenvolveu uma reforma radical na estrutura financeira e econômica do país. Estabeleceu um novo sistema de arrecadação de impostos e normalizou seu recebimento por meio de um férreo controle dos contribuintes e uma devassa entre os cobradores oficias desonestos. Promoveu a indústria nacional aumentando as tarifas alfandegárias e favorecendo as exportações, fomentou a instalação de novas indústrias, atraindo operários estrangeiros especializados, criou fábricas protegidas e subvencionadas pelo estado e ditou diversos regulamentos concernentes à produção e à organização administrativa dessas fábricas. Para ajudar o comércio, ele patrocinou a construção de estradas e canais. Com a morte de Mazarin (1661), permaneceu como um conselheiro não-oficial do rei Louis XIV e foi nomeado controlador geral das finanças (1665). Nomeado secretário de estado para a Marinha (1668), estimulou a navegação e a construção de embarcações, ao mesmo tempo em que promovia uma política colonialista destinada a abrir novos mercados para os produtos franceses. Criou as companhias de comércio das Índias orientais e ocidentais, do Levante e do Senegal. Na cultura incentivou avanços nas ciências e no aprendizado, através de apoio dado à Academia Francesa de Ciências, construindo observatórios, por exemplo o Observatório de Paris, fundando Academia de Inscrições e Belas-Artes e a Academia Real de Arquitetura, e criando uma revista periódica direcionada à novos livros lançados. Infelizmente não pode controlar as ambições militares de seu rei e no final de sua vida (1683), tornou-se odiado pelos seus compatriotas por ter aumentado os impostos para cobrir as despesas de guerra feitas pelo rei Luís XIV e a construção do novo e enorme Palácio de Versalhes, fazendo que em seus últimos dias de vida se sentisse desapontado, como que se seu trabalho tivesse sido em vão, e morreu em Paris.
Link: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/JeanBaCo.html